Porque não acontece só aos outros
Portugal é um dos países do mundo onde se consume mais drogas e este consumo está a aumentar entre os jovens. Mesmo sendo este problema uma realidade do quotidiano que é abordada pela comunicação social e sociedade em geral, estes temas continuam a ser deixados de parte por todos nós, existindo mesmo muitas famílias onde estes assuntos continuam a ser alvo de tabu, não sendo dada liberdade para os adolescentes abordarem o tema junto da sua família. Porque é sempre mais fácil olhar para os outros sem antes olhar-mos para nós mesmos, e porque só o filho da nossa vizinha se “meteria nesses caminhos”. Mas é importante que de uma vez por todas se tome consciência que os problemas não acontecem só aos outros, e todos nós nos podemos deparar com uma situação deste género.
Na adolescência tudo muda a um ritmo alucinante, sendo esta uma fase de descobertas por vezes algo confusas, com dúvidas, ansiedades, sentimentos, emoções, atitudes e valores andam num turbilhão. Na adolescência os jovens procuram a independência, a autonomia e começam progressivamente a aumentar as responsabilidades. Todas estas mudanças geram nos adolescentes mudanças de atitude perante a escola, os novos grupos de amigos, a sexualidade, contestando então valores até ai instituídos, o que por vezes gera grandes desentendimentos entre pais e filhos. O apoio dos pais mostra-se imprescindível, pois embora na maior parte dos casos os jovens procurem apoio no seu grupo de amigos, os pais devem ter uma relação aberta com os seus filhos, para que estes se sintam à vontade para esclarecer todas as suas duvidas com alguém que lhe possa dar uma explicação mais correcta para todas as suas questões. O grupo de amigos nesta fase mostra-se essencial pois é com este grupo que o jovem procura falar sobre os seus problemas, desgostos, vontades e demonstrar as suas opiniões. Embora por vezes os pais não apreciem as “companhias” dos seus filhos, não devem criticar os amigos dos seus filhos pela sua aparência, mas sim tentar conhecer as suas histórias de vida, as suas experiências, não deixando claro, de expressar a sua opinião e de ouvir o que estes tenham para dizer. Importante é de salientar que as proibições e críticas inflexíveis e negativas poderão ter um efeito contrário, levando o adolescente a ter comportamentos de desafio e de provocação. Os pais devem aceitar a necessidade de independência que os adolescentes sentem nesta fase, sendo compreensivos, não deixando no entanto de estabelecer os limites até onde podem ir e até onde podem passar. Os jovens sentem curiosidade pelas drogas normalmente pela atracção pelo risco, o desejo, de fugir aos problemas, o desejo de testar limites e transgredir regras, a pressão dos amigos, o desafio à autoridade, o desejo de afirmação assim como a informação incorrecta ou ausência de informação conduzem então, muitas vezes à primeira comunicação com drogas, podendo muitas vezes levar à dependência. É frequente associar-mos o consumo de drogas a substâncias ilegais, proibidas por lei, mas no entanto a droga mais consumida e a mais problemática na nossa sociedade é o álcool, cujo consumo é permitido legalmente. É importante saber a diferença entre o uso das substâncias e o seu abuso. Do mesmo modo é fundamental responsabilizar o jovem pelas suas decisões. A experimentação de drogas e sobretudo do álcool é frequente, não constituindo necessariamente um sinal de perigo. O abuso repetido é já mais grave e precisa de apoio. É importante que os pais saibam criar uma relação estável de abertura e de apoio, onde o diálogo possa acontecer naturalmente, ajudando os jovens a lidar com os seus sentimentos e onde esteja presente a informação clara que permita estabelecer bases sólidas para o seu desenvolvimento. A curiosidade sobre o mundo que nos rodeia é parte natural do nosso crescimento e, da mesma forma que as crianças aprendem e colocam questões desde muito cedo, os adolescentes procuram respostas às suas perguntas. Se as respostas não surgirem da família ou na escola, as principais informações serão procuradas junto dos seus amigos ou nos órgãos de comunicação social, fontes que nem sempre fornecem informações claras e objectivas. Devemos estar sempre preparados para um caso de consumo de drogas, porque pode acontecer bem mais perto do que imaginamos. Não devemos criticar os outros por entrarem por caminhos menos correctos porque também pode acontecer-nos a nós, e verdade seja dita, que atire a primeira pedra quem nunca tenha cometido erros. Ninguém é tão alguém que possa criticar outro alguém.
Saiba responder mas também ouvir o que o seu filho tem a dizer, pois uma relação é feita de diálogo e não apenas de perguntas e respostas. Não esqueça que por vezes não é fácil disponibilizar muito tempo para acompanhar o seu filho, mas que a qualidade desse tempo que passam juntos será mais importante do que longas horas em conjunto sem comunicarem. É importante não ser repressivo, nem demasiadamente permissivo. O seu filho precisa tanto de regras e de limites como de afecto.
Onde pedir ajuda:
» Linha Vida SOS droga: 800 25 52 55
» Instituto da Droga e da Toxicodependência: 21 716 29 69 (www.idt.pt)
Carina Albuquerque
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